O que é a Miopia?

A miopia é um tipo de erro refrativo cada vez mais comum em Portugal e no mundo


A miopia é considerada uma autêntica epidemia. Estima-se que atualmente quase 1/4 da população seja miope e que em 2050 esse número suba para metade!


Para a pessoa com miopia os objetos distantes parecem desfocados. Num olho míope, ou porque o globo ocular é demasiado longo (o mais comum), ou porque a córnea é demasiado curva para o comprimento do globo ocular, ou porque a lente cristalino é demasiado potente, ou por uma combinação destes fatores, os raios de luz - quando a pessoa olha para um objeto distante - concentram-se num ponto à frente da retina. Isso leva a que os objetos distantes pareçam desfocados ao míope.

O que causa a miopia?

A etiologia da miopia continua a ser um mistério. Se, por um lado, existem evidências que a miopia tem uma componente hereditária baseada no facto, por exemplo, de pais míopes terem mais tendência para terem filhos míopes , por outro, estudos recentes têm relatado que hoje muitas pessoas estão-se a tornar míopes muito embora os seus pais ou avós não o fossem

Na realidade, todos os seres humanos são determinados pela genética e pelo ambiente. Os genes apenas representam a predisposição e o potencial que um determinado indivíduo tem para enfrentar um determinado problema ou doença. Em ultima análise, são as experiências e os estilos de vida que vão determinar se um individuo vai desenvolver um determinado problema.

A vida de hoje é muito diferente da dos nossos antepassados – basta lembrar as mudanças radicais ocorridas nos últimos anos em termos de ambiente de trabalho e nutrição. É, portanto, bastante plausível que essas transformações no ambiente possam ter um impacto significativo sobre a incidência de miopia . Sem, no entanto, desprezar o facto de a hereditariedade ser um fator de risco .

Se a miopia congénita parece ser predominantemente provocada por fatores genéticos, a miopia que surge nos primeiros anos da escola parece ser influenciada em larga medida por fatores ambientais


Um desses fatores ambientais parece ser o excessivo tempo que as crianças nas sociedades ditas industrializadas passam dentro de casa . O aconselhamento ao paciente para aumentar o tempo que passa ao ar livre e a consciencialização por parte das escolas que as atividades ao ar livre reduzem o risco de desenvolvimento da miopia e a sua progressão, são estratégias relativamente simples que podem ajudar a minimizar a ameaça à visão que a alta miopia representa.

Na alta miopia (mais de 6D) a esclera posterior apresenta um adelgaçamento substancial devido ao alongamento do olho , o que leva a maior risco para o desenvolvimento de anomalias oculares, como: descolamento de retina, liquefação e descolamento do vítreo, anomalias do disco ótico ou glaucoma .


Como controlar a progressão da miopia?

Existem 2 abordagens possíveis face à miopia:

  1. Abordagem tradicional - prescrição das lentes oftálmicas ou de contacto convencionais (e esperar pelo melhor);
  2. Abordagem pró-ativa - Se em relação aos fatores genéticos pouco podemos fazer, podemos tentar modificar os fatores ambientais.

Enquanto Optometrista vou apenas focar-me nas soluções não farmacológicas para controlar a progressão da miopia.

Mudanças no estilo de vida

A criança com miopia que vive num apartamento no meio da cidade, com hábitos sedentários, em que a prática de atividades ao ar livre é demasiado rara tem um risco acrescido de vir a desenvolver miopia elevada .

É fundamental que a criança tenha um estilo de vida mais saudável, nomeadamente altere os seus hábitos e incorpore no seu quotidiano na prática regular de atividade física ao ar livre.


Soluções Optométricas

Muita da pesquisa atual está centrada em tentar perceber qual o papel da refração periférica na progressão da miopia. O trabalho de Smith III e colegas tem fornecido provas categóricas que a manipulação da focagem na retina periférica pode afetar drasticamente o alongamento axial do olho . Um dos fatores que contribui para estes padrões de refração periférica será as diferenças de anatomia do globo ocular que usualmente existem entre míopes e emetropes (ou hipermetropes) sendo que nestes últimos a forma do globo ocular não é tão alongada como nos míopes Resumindo, os emetropes e os hipermétropes exibem tipicamente miopia periférica e os míopes apresentam geralmente hipermetropia periférica .

A hipermetropia periférica é um fator determinante para a progressão da miopia. Corrigi-la, ou mesmo induzir miopia na região periférica da retina pode levar a uma redução na taxa de progressão da miopia.


A correção desta refração periférica com lentes oftálmicas convencionais é difícil de fazer, podendo até aumentar o grau de hipermetropia periférica o que pode contribuir para a progressão da miopia. Este facto pode ajudar a explicar porque em tantas crianças (a quem são prescritas lentes oftálmicas convencionais) a sua miopia não cessa de aumentar.

Ortoqueratologia

A Ortoqueratologia é uma solução segura , não cirúrgica para pacientes com miopia. Consiste em lentes de contacto usadas durante a noite que moldam suavemente a curvatura da córnea enquanto o paciente dorme. Após serem removidas pela manhã, os objetos distantes voltam a parecer focados e os pacientes podem ver claramente sem necessitarem de óculos ou lentes de contacto durante todo o dia. O processo é completamente reversível, pois a córnea volta ao seu estado original apenas alguns dias após o paciente deixar de dormir com as lentes.
O mecanismo que a Ortoqueratologia usa para controlar a miopia baseia-se em controlar a refração periférica hipermetrópica que é o fator determinante para a progressão da miopia

A Ortoqueratologia está limitada a pacientes com menos de 6 D de miopia, astigmatismo residual (menos de 1.75D) e com córneas que não sejam excessivamente planas.

Lentes de contacto multifocais

As Lentes de contacto multifocais eficazes para o controle da miopia são as que na zona central da lente corrigem erro refrativo à distância, ou seja, a miopia, e depois têm uma zona externa relativamente positiva em comparação com a porção central. Esta potência relativamente positiva controla a refração periférica hipermetrópica

Estas lentes são descartáveis diárias ou mensais de uso diurno e os riscos que apresentam não são maiores em crianças do que nos adultos

Lentes oftálmicas bifocais

Existe um subgrupo de míopes para os quais a prescrição de lentes negativas que melhoram a visão distante dificulta a realização de atividades próximas. Estes pacientes tipicamente exibem uma disfunção acomodativa que resulta em dificuldade para manter a focagem ao perto de forma confortável com a sua prescrição miópica. Essa dificuldade leva a que os seus olhos tenham tendência a convergir demasiado. Este problema leva a que as imagens próximas possam estar a ser focadas num plano atrás da retina criando uma desfocagem hipermetrópica . Se esta desfocagem hipermetrópica for prolongada, como pode acontecer no caso de trabalho próximo prolongado, pensa-se que pode contribuir para o alongamento axial do olho e consequentemente para a progressão da miopia.

Estas lentes oftálmicas terão então menos potência negativa na zona inferior da lente, tentando-se assim atingir 2 objetivos: controlo da miopia e mais conforto na realização de trabalho próximo.